Lula rebate protecionismo comercial de Trump e negacionismo na saúde e clima

27/02/2025 | 06:10



Presidente esteve na reunião de Sherpas do BRICS, em Brasília. Lula reforça o papel da OMS, do Acordo de Paris e da COP30, como também por novas plataformas de pagamento

 
Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, durante Abertura da Primeira Reunião de Sherpas da presidência brasileira do BRICS. Palácio do Itamaraty, Brasília - DF. Foto: Ricardo Stuckert / PR


por Murilo da Silva


O presidente Lula discursou nesta quarta-feira (26) na abertura da Primeira Reunião de Sherpas da presidência brasileira do BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã), realizada no Palácio Itamaraty, em Brasília.

Com uma fala crítica que passou sobre os diversos pontos que nortearão a presidência brasileira do grupo, Lula defendeu a Organização Mundial da Saúde (OMS), iniciativas globais pelo clima como o Acordo de Paris e a COP30, e também novas plataformas de pagamento para superar entraves da integração econômica. Todos esses pontos vão ao contrário do que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem pregado.

Lula ainda tratou sobre inteligência artificial ao defender a mitigação de riscos de forma compartilhada e a distribuição equânime da tecnologia.


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Os trabalhos da presidência brasileira do grupo foram separados em seis eixos. Os Sherpas, enviados dos chefes de estado/governo dos integrantes do BRICS, tem a responsabilidade de construírem as propostas que serão levadas à Cúpula de Líderes, que ocorre em 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro. Na proposta lida por Lula constam:


- Reforma da arquitetura multilateral de paz e segurança, com reforma das Nações Unidas, inclusive do Conselho de Segurança;

- Parceria para eliminação de doenças socialmente determinadas e doenças tropicais negligenciadas;

- Contribuição para aprimoramento do sistema monetário e financeiro internacional;

- Atenção aos efeitos da crise climática no planeta;

- Discussão sobre o papel da inteligência artificial e seus desafios éticos, sociais e econômicos;

- Aumento da institucionalidade do BRICS, para garantir mais eficiência nas decisões e ações com maior impacto global possível.



‘Recados’ a Trump


Em seu discurso, Lula discorre sobre cada um dos eixos. Ao falar sobre a necessidade de reformar o multilateralismo e buscar a paz, o presidente lembra da contribuição de China e Brasil com a criação do “Grupo de Amigos da Paz para o conflito na Ucrânia”, ressalta que a “crise em Gaza desperta intensa preocupação e só será resolvida com o envolvimento dos países da região”. Ele ainda disse que o Brasil lançou um “Chamado à Ação sobre a Reforma da Governança Global” no âmbito do G20 e lembrou da urgência da reforma das Nações Unidas, incluindo o Conselho de Segurança – como ele já propôs em outros discursos.

Quanto à saúde, Lula fala que pretende lançar uma Parceria para a Eliminação de Doenças Socialmente Determinadas e Doenças Tropicais Negligenciadas. Em recado amplo, mas que encontra abrigo nos presidentes de Estados Unidos e Argentina, Trump e Javier Milei, Lula ressalta que sabotar os trabalhos da Organização Mundial da Saúde (OMS) “é um erro com sérias consequências”. Nesse sentido, pede o fortalecimento da arquitetura global de saúde com a OMS no centro.


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Ao tratar sobre a reforma do sistema monetário e financeiro internacional, outro ponto que vem martelando em eventos internacionais, o presidente brasileiro lembra que é pelo Novo Banco de Desenvolvimento, conhecido como banco do BRICS, que um novo modelo que responda às necessidades do Sul Global irá surgir.

Em outro recado que pode ser atribuído a Trump, Lula diz que: “a atual escalada protecionista na área de comércio e investimentos reforça a importância de medidas que busquem superar os entraves à nossa integração econômica”. O presidente dos EUA vem taxando produtos estrangeiros de nações que não se submetem aos seus interesses.


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Dessa maneira, Lula reforça que a gestão brasileira do grupo está comprometida com “o desenvolvimento de plataformas de pagamento complementares, voluntárias, acessíveis, transparentes e seguras”, assim como visa melhorar a” Parceria para a Nova Revolução Industrial (PartNIR)” e promover a atualização da “Estratégia para a Parceria Econômica do BRICS para 2030”.

No que diz respeito à crise climática, a fala foi taxativa: “A omissão custa caro e não poupará ninguém”. Nesse sentido, defende o papel do Acordo de Paris e da COP30 de Belém, sem deixar de pedir que os países apresentem, assim como o Brasil, novas contribuições nacionalmente determinadas (NDCs) para combate às mudanças climáticas.


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Sobre Inteligência Artificial (IA), observa que existem “desafios éticos, sociais e econômicos”, por isso é fundamental a responsabilidade compartilhada do assunto com o BRICS no centro dos debates para a construção de uma governança justa e equitativa, para que assim não ocorra a distribuição desigual dessa tecnologia, deixando o Sul Global de fora.

Por fim, o presidente Lula fala sobre o crescimento do BRICS e suas responsabilidades, pois “não basta reunir líderes todos os anos se não somos capazes de escutar os anseios dos cidadãos“. Assim, pede uma coordenação mais eficaz e ágil para ações com o maior impacto global possível.


Assista abaixo como foi o discurso completo do presidente Lula (leia aqui):








Fonte: Portal Vermelho
 
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